Wednesday, January 2, 2008

much ado about nothing

As adaptações para cinema de peças de Shakespeare têm aquele dom especial de me mexer com os nervos. São geralmente feitas pelo Kenneth Branagh, o que faz com que se assuma logo que "hmm é bom" sem realmente pensar sobre o que se está a ver. É feito pelo Kenneth Branagh, é bom. Depois tem-se muito aquela mania de "vamos mostrar como Shakespeare se consegue adaptar aos dias de hoje!" e vá de transformar as peças em dramas de adolescência como no 10 Things I Hate About You. Contudo, o 10 Things I Hate About You consegue ser tolerável e porquê? Porque do original, basicamente, só tem a história. Não põe adolescentes a falar com nariz empinado, a despejar texto com uma entoação super-artificial e um sotaque inglês forçado mas sem sentir nada do que estão a dizer. Resultado? Não se percebe nada. Tem-se uma fala de oito linhas que podia ser resumida a uma expressão como "ela não recebeu a minha carta hoje". Não que as falas sejam más; o Sr. Shakespeare tem o seu mérito. O problema é sempre quem as diz. O pior exemplo de tudo isto que escrevi é isto:



"Love's Labour's Lost"


E que tem ainda uma característica que as adaptações de Shakespeare para cinema costumam ter que me esqueci de referir: o elenco ser composto por actores que raramente aparecem porque... deixa ver, não prestam?, mas que se aproveitam do facto de estarem a fazer Shakespeare para tentarem mostrar ao mundo que conseguem representar. E conseguem? Não! Fazem o que escrevi acima: sotaque inglês forçado, expressões forçadas e um misto de coisas que só me apetece espancá-los que me enerva tanto que ai. Outra coisa que o Kenneth Branagh se lembrou para este filme foi de o tornar num musical dos anos 30. Que coisa deliciosa. Pôr actores que não sabem representar a cantar. Resultado? "Oh é uma adaptação tão boa do sempre formidável Kenneth Branagh e torna-se curioso por ver actores que nunca vimos a cantar a cantar e a dançar como nunca vimos igual". Tretas. A Alicia Silverstone é boa actriz? Aquele do Scream que tinha cara de alucinado e queria mandar o fígado de não sei quem pelo correio, é bom actor? Esse então é que se via que estava a fazer over-acting como quem inspira e expira. É muito bom, maravilhoso.

Ok, mas não estou a criticar todas as adaptações nem todo o trabalho do Kenneth Branagh. O Hamlet é tolerável (graças à Kate Winslet) e o mais recente As You Like It, para além de todo o "vamos encher isto de orientalismos" vale pela Bryce Dallas Howard.

Também não estou a dizer que conheço bem Shakespeare, porque não conheço. Comprei a biografia que saiu há pouco tempo, do Peter Ackroyd, mas ainda não tive tempo de passar das primeiras páginas portanto, para além dos filmes e de algumas peças que vi cá, sou praticamente ignorante. Mas consigo, felizmente, discernir entre o bom, o mau e o patético e pronto.

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