As adaptações para cinema de peças de Shakespeare têm aquele dom especial de me mexer com os nervos. São geralmente feitas pelo Kenneth Branagh, o que faz com que se assuma logo que "hmm é bom" sem realmente pensar sobre o que se está a ver. É feito pelo Kenneth Branagh, é bom. Depois tem-se muito aquela mania de "vamos mostrar como Shakespeare se consegue adaptar aos dias de hoje!" e vá de transformar as peças em dramas de adolescência como no 10 Things I Hate About You. Contudo, o 10 Things I Hate About You consegue ser tolerável e porquê? Porque do original, basicamente, só tem a história. Não põe adolescentes a falar com nariz empinado, a despejar texto com uma entoação super-artificial e um sotaque inglês forçado mas sem sentir nada do que estão a dizer. Resultado? Não se percebe nada. Tem-se uma fala de oito linhas que podia ser resumida a uma expressão como "ela não recebeu a minha carta hoje". Não que as falas sejam más; o Sr. Shakespeare tem o seu mérito. O problema é sempre quem as diz. O pior exemplo de tudo isto que escrevi é isto:
"Love's Labour's Lost"
E que tem ainda uma característica que as adaptações de Shakespeare para cinema costumam ter que me esqueci de referir: o elenco ser composto por actores que raramente aparecem porque... deixa ver, não prestam?, mas que se aproveitam do facto de estarem a fazer Shakespeare para tentarem mostrar ao mundo que conseguem representar. E conseguem? Não! Fazem o que escrevi acima: sotaque inglês forçado, expressões forçadas e um misto de coisas que só me apetece espancá-los que me enerva tanto que ai. Outra coisa que o Kenneth Branagh se lembrou para este filme foi de o tornar num musical dos anos 30. Que coisa deliciosa. Pôr actores que não sabem representar a cantar. Resultado? "Oh é uma adaptação tão boa do sempre formidável Kenneth Branagh e torna-se curioso por ver actores que nunca vimos a cantar a cantar e a dançar como nunca vimos igual". Tretas. A Alicia Silverstone é boa actriz? Aquele do Scream que tinha cara de alucinado e queria mandar o fígado de não sei quem pelo correio, é bom actor? Esse então é que se via que estava a fazer over-acting como quem inspira e expira. É muito bom, maravilhoso.
Ok, mas não estou a criticar todas as adaptações nem todo o trabalho do Kenneth Branagh. O Hamlet é tolerável (graças à Kate Winslet) e o mais recente As You Like It, para além de todo o "vamos encher isto de orientalismos" vale pela Bryce Dallas Howard.
Também não estou a dizer que conheço bem Shakespeare, porque não conheço. Comprei a biografia que saiu há pouco tempo, do Peter Ackroyd, mas ainda não tive tempo de passar das primeiras páginas portanto, para além dos filmes e de algumas peças que vi cá, sou praticamente ignorante. Mas consigo, felizmente, discernir entre o bom, o mau e o patético e pronto.
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