Monday, April 30, 2007

Porque é que eu fui ouvir isto?

And now, for something not completely different

Depois disso, foi isto:




A minha primeira vez na Marvel e BD em geral, tirando Calvin&Hobbes e afins. E adorei, adorei. Estou à espera do League of Extraordinary Gentlemen para ver como é a sério e esquecer-me da anedota que foi o filme. Um submarino em Veneza. Sim.

E agora está a ser isto:




Mas quer-me parecer que vou ter de ler outra coisa ao mesmo tempo, que a tradução da Livros do Brasil está em português do Brasil e torna-se um bocadinho monótono.

Allergic (to thoughts of mother earth)

Título non-related.


Extremely Loud and Incredibly Close, Jonathan Safran Foer

Este é um daqueles livros que, ainda nem a meio vamos, e já nos estamos a perguntar "Porque raio é que eu me vou dar sequer ao trabalho de tentar escrever?" Por tudo. Pela imaginação, pela maneira como fala e descreve as coisas, até mesmo pelos diálogos que de serem tão simples se tornam mais francos. Como aquele que pus aqui uns posts mais abaixo, que já passo a explicar.

O livro é narrado, sobretudo, por um rapaz aparentemente sobre-dotado de 9 anos, Oskar Schell, que se interessa por coisas pouco normais para a sua idade e que se auto-proclama cientista, inventor, e outras coisas. Digo "sobretudo" porque a acção principal é entrecortada por cartas escritas pelo avô de Oskar, Thomas Schell e pela avó, onde falam da sua infância em Dresden durante a Segunda Guerra Mundial e as consequências que isso teve para cada um deles na vida actual... ou no caminho que os levou à vida actual. A acção principal passa-se na Nova Iorque pós-11 de Setembro, no qual Oskar perdeu o pai. Certa noite, quando foi ao quarto do pai depois da sua morte, Oskar reparou numa jarra azul que nunca tinha visto. Ao tentar agarrá-la, empoleirado em cima de uma cadeira e da colecção completa de obras de Shakespeare que a avó lhe tinha dado, deita-a ao chão. E é quando repara que, lá dentro, estava um envelope com uma chave. É imediatamente assaltado pela pergunta lógica: o que é que a chave abre? É este, então, o tema central: a busca de Oskar, por toda a cidade, de uma única fechadura, e da esperança que essa busca o aproxime do pai ou o ajude a continuar a negar a sua morte, vivendo numa espécie de mundo imaginário onde a dura realidade ainda não entrou. O mundo pós-11 de Setembro entrecruza-se com experiências da Segunda Guerra Mundial. Um homem que perdeu tudo, incluindo a capacidade de falar. Uma mulher que não reencontrou uma nova vida, mas sim uma vida aceitável, cheia de regras para evitar que voltasse a acontecer algo de mau.

O tal diálogo que pus lá mais em baixo foi durante uma cena em que Oskar está no psicólogo. O psicólogo pede-lhe sempre para o avisar quando se começa a sentir constrangido, o que acho que acontece mesmo no início por uma coisa muito insignificante, mas adorei o ponto onde o jogo de palavras os levou e à incapacidade de Oskar de associar uma palavra à palavra "Felicidade", e ter utilizado o constrangimento como desculpa para acabar de vez com a conversa. E tudo feito de modo tão simples...

Adorei o homem que foi perdendo a capacidade de falar devido à sua dor. Chegando mesmo a ter de tatuar as palavras "Sim" e "Não" nas palmas de cada mão. E a última palavra a conseguir dizer ser "Eu", mas que não era coisa muito boa porque parecia que se estava constantemente a queixar ("Eu" em Inglês, claro, "Ai ai ai"... em Português perde piada - claro).

Adorei tudo. A desilusão no fim, quer minha, quer de Oskar. Adorei o grafismo do livro, a apresentação, com as fotografias do que Oskar ia vendo ou falando, tudo sempre relacionado. Até mesmo as páginas do fim, com a fotografia do homem a cair de uma das torres do World Trade Center que, corridas ao contrário, fazem com que o homem em vez de cair esteja a voar de volta ao topo da torre. Tal como Oskar fala no fim. Que se tivesse fotografias de tudo o que se passou nesse dia fazia corrê-las para acontecer tudo ao contrário, de modo a que ele e o pai ainda estivessem juntos e em segurança.

Comprei por causa do Everything Is Illuminated. Nunca li o livro, mas vi o filme e bastou-me. Mas agora, depois deste, tenho muita curiosidade. Pena ter uma pilha enorme em cima da mesa de cabeceira... ou não. Ao menos tenho que fazer. Aliás, notam-se certas coisas comuns entre um livro e outro, quer dizer, o filme. Nem que não seja a busca, presente nos dois, que não traz as consequências esperadas mas traz outras que talvez compensem. No caso deste último... talvez não. Embora a realidade seja necessária.

Saturday, April 28, 2007

Critics, dine in hell

"Mas se nos referimos a "Os Scissor Sisters" em vez de "As Scissor Sisters", tal deve-se ao facto de os elementos masculinos predominarem na formação, pois à parte disso Ana Matronic é a chama do colectivo."

Isto não é uma coisa um bocado estúpida de se escrever? Não é o ser verdade ou não. É o ser estúpido.

"De resto, a canção deu, ainda, direito a um striptease de Jake Shears que deixou o palco usando apenas umas cuecas pejadas de lantejoulas prateadas e brancas."

Que estava mortinho para tirar, via-se. Fomos presenteados com umas nádegas. E com tufos. Não interessa, vá.

Feathers, sweat and tears

Tenho que confessar que não estava nada virada para me meter no Coliseu e só sair de lá às 23.30, ainda para mais sozinha, numa altura que chego às 19 e já não estou para ninguém. Mas tinha gasto o dinheiro, e mais valia não o desperdiçar, como aconteceu com o Rent e outros que tais (felizmente desta vez não perdi 15€ a mais). E depois porque sei que me arrependo sempre. Portanto, coração ao alto, lá fui.

Cheguei cedo de mais, o que já se vai tornando hábito. Como não me dou bem na plateia tento sempre chegar a uma hora que me garanta aquele lugarzinho óptimo nas bancadas que me dá para ver tudo, de cima, sem cabeças à frente, e que me tem dado sempre recompensas giras. Tive companhia e encontrei companhia para essa altura, mas para a altura pior, a da espera, contentei-me em massacrar uma pessoa que não sei quem é mas que muito me tem aturado. Ao mesmo tempo ia-me dedicando a ver quem chegava, como chegava e a tentar apanhar situações estúpidas para ter algo que contar. Apanhei imensas. Mas isto é um sítio público, não quero revelar nada que me possa vir a comprometer que já me bastou ter sido agredida ontem na correria para a sala. Mas há vídeos para quem quiser cuscar. Vídeos muito maus em que é quase preciso lupa. Continuando. A coisa positiva é que eles andam com um DJ atrás, o que nos poupou daquela música de elevador que o Coliseu tem antes da primeira parte e durante o soundcheck. Não que aprecie aquele género, mas foi giro quando passou a InBetween Days de Cure assim do nada. A primeira parte foi Loto. Não que tenha sido mau, não foi. Mas não consigo gostar de primeiras partes; quer dizer, consigo gostar, mas não me consigo envolver em tudo. Estou com as vistas já postas no que vem a seguir e quero que tudo acabe depressa. Por acaso... acho que não deviam haver primeiras partes. Nem é por isto que acabei de dizer. É mais porque deve ser frustrante para quem está a tocar saber que aquela gente toda está ali para ver outra banda que não eles e que 80% dessas pessoas só quer que acabem de tocar depressa para o concerto a seguir começar. É que até o DJ deles a certa altura começou a ser assobiado.

E começou. Por mais coisas que veja, sinto sempre um nervoso tremendo antes de começar. Especialmente quando são bandas que gosto mesmo, ou bandas com as quais andei obcecada, como foi o caso lá para Dezembro. Antes de Blur entrarem, toda eu tremia. Tinha sido muito ano a esperar, e finalmente vê-los era uma coisa com a qual eu nunca tinha contado, nem quando tinha 13 anos e os ouvia repetidamente, porque sabia que era uma coisa muito improvável. Aliás, porque tenho o dom de começar a gostar de bandas ou quando estas acabaram ou quando estão em pausa, o que torna tudo mais impossível. Essa vez foi mesmo a que estava mais nervosa. Continuando. Lá entraram, claro que sem o Jake Shears e a Ana Matronic para criar sabe-se lá o quê, mas eventualmente teve que ser. Veio tudo abaixo. Bastou ele pôr o sapatinho de salto branco no palco que vindas sabe-se lá de onde surgiram imensas bandeiras gay, e gritos, e histeria e um rapaz na fila da frente quase a descabelar-se a gritar o nome dele. (Razão número 2 por adorar aquele lugar: acesso livre às figuras das pessoas das primeiras filas).

Começaram com a She's My Man, e depois perdi-me. Acho que foi a Laura e depois, para minha grande surpresa, a I Can't Decide, mas depois é que me perdi mesmo. Ou então foi ao contrário. Não sei. Estava ali para aproveitar e não para me pôr com olho de observadora e crítico e anotar tudo. Não consigo aproveitar e gostar das coisas assim. Se vou para uma coisa, é para ir e estar lá e sentir tudo o que há para sentir. Neste caso, querer ser o Jake. É favor não perguntar, mas eu nestas situações altero-me um bocado. Sei que passadas umas duas ou três músicas, ela disse algo como 'now we've done the foreplay, let's go to second base'... e que a partir daí, até pessoas nas bancadas do outro lado que estavam relativamente quietas - aquele dançar tímido de abanar a anquinha e o pé - já estavam de braços no ar, a imitar os gestos quer do Jake, quer da Ana. Foi fantástico. Eles têm um carisma enorme, conseguem puxar até pela pessoa que menos esteja inclinada a dançar, e criam um ambiente mesmo... eléctrico, energético, de frenesim e de tudo. Acho que mesmo que não conhecesse nada deles tinha adorado na mesma. Tudo o que se passa no palco é extremamente teatral e encenado. Das roupas às poses, das danças aos gestos. Não estamos a ver apenas um concerto de "música", mas sim uma mistura de várias coisas, que roça o vaudeville, até aterrar no mais puro estado glam. É impossível tirar os olhos do que se passa em palco, porque cada um está a fazer algo diferente. É mesmo, e sublinho o mesmo, contagiante. Não tocaram a Return to Oz. Nem esperava, claro. Só tive assim uma muito pequena esperança que isso acontecesse por ser o último concerto da tour europeia e quererem fazer algo de diferente e de maior.

Momento alto? Aqui vai.

Para quem não conhece o Coliseu é um bocado difícil de visualizar, mas talvez depois pelas fotografias manhosas dê para perceber. Tem-se o palco com a plateia em frente, mas logo ao lado do palco começam as bancadas e, ficando nos degraus que dão acesso às bancadas, agarrado ao corrimão, tem-se uma vista perfeita e sem obstáculos de tudo o que se passa. É aí que aposto sempre em ficar, e é aí que geralmente as coisas acontecem. Aconteceu em Placebo, embora não tivesse lucrado nada com isso; aconteceu em Velvet Revolver, embora também não tenha lucrado nada com isso. E aconteceu com Scissor Sisters, embora tenha lucrado imenso com isso. Pois bem, acabou então o set, começou a encore com a Take Your Mamma, para variar sem o Jake, quando de repente ele aparece, airosa num fato branco que fazia lembrar o das dançarinas de Charleston/Fox Trot/o que for. E começa a dar "conversa" (a cantar), à bancada do outro lado, coisa que já tinha começado desde o início quando a Ana reparou em nós. Já estava mais que mentalizada que não íamos ter atenção nenhuma quando nisto ele desce do palco e começa a vir para o nosso lado. A pensar que ele só vinha dar uns apertos de mão lá de baixo começamos a descer, mas qual quê. Ele passou o corrimão e juntou-se a nós. Por momentos temi pela minha vida, tive imenso medo que me atropelassem e deitassem das escadas abaixo, mas aí também me enganei. Ele subiu até cá acima onde eu, e os outros todos, estávamos. Estava estúpida. Despiu-se ao pé de nós, para delírio do Coliseu inteiro e ficou ali, no meu lugar. Às tantas vem um homem a correr desenfreado lá de baixo que me deita ao chão. A princípio pensei que fosse um fã assanhado a querer tirar fotografias, mas depois vi que era o segurança. Pediu-me desculpa, eu no auge da minha felicidade a cantar e a levantar-me ao mesmo tempo; ponho-me de pé, o Jake mesmo à minha frente, eu encolho os ombros e faço um sorriso género "Acontece", mas continuo a cantar e de repente ouço a minha voz super-esganiçada a um volume demasiado alto do que o aconselhado, a cantar "So she'll have no doubt that we're doing all the best we caaaaaan!!". Calei-me logo. E pronto, ele depois desceu e voltou ao lugar onde pertence, e eu fiquei em estado estúpido cheia de cãimbras no pé direito de tanto dançar e saltar e de ter sido deitada ao chão. Escusado será dizer que a partir desse momento controlar-me foi impossível, estive mais animada do que durante o set inteiro. E adorei quando foi a I Don't Feel Like Dancing. Tudo a cantar, milhões de braços no ar, palmas, luzinhas, penas, tudo. Foi memorável, mesmo.

Quando acabou tive logo que ligar a alguém a contar a proeza. Estava demasiado animada e espero do fundo do coração não ter furado tímpanos, mas ainda estava com o tom de voz à Bee Gees com que estive durante hora e meia.

Claro que não foi daqueles concertos que teve um significado especial. Os que me marcam são, geralmente, pela negativa. Aqueles que fico a pensar e a remoer e que me sinto miserável quando acabam. Placebo no ano passado, embora não tenha sido um concerto assim fantástico, foi o suficiente. Blur por tê-los à minha frente pela primeira vez depois de anos de espera. Arcade Fire em Paredes, que, embora não conhecesse nada deles, significou qualquer coisa não só pelas circusntâncias mas por causa do ambiente, também, aquela luz meio violeta. Este fica de certo pela energia e pelo movimento e pelo furor que foi, e também pelo Jake Shears e pelo carisma fantástico da Ana Matronic. Gostava de vê-los outra vez dia 5 de Julho no SBSR, mas não sei se vou estar abonada (ando com a mania de dizer isto) o suficiente para isso. Arcade Fire não perco por nada; a questão é, bilhete de um dia, é uma coisa. Bilhete para os três, que não há para dois, é outra completamente diferente.

E também há o Creamfields. Mas... esse também ainda não sei. Não quero ver Placebo sozinha outra vez.

AH! Tocaram a Paul McCartney! Foi o delírio.

Wednesday, April 25, 2007

Era fazer o favor de tocar aquela

Já fiz o que podia. Só me falta um cartaz assim apelativo. Ou recorrer a meios mais extremos. Mas era tão... *inserir qualquer coisa que signifique felicidade temporária assim durante 3 minutos*

Tenho que ir ver isto




Provavelmente vai para a lista, juntamente com o Sunshine e o 300. Mas fica sempre bem mostrar a intenção e o empenho.

Tuesday, April 24, 2007

Ne-on Bi-ble

O segundo álbum é sempre um passo arriscado, especialmente se tem que suceder algo que impressionou tudo e todos e foi uma revelação estrondosa. Kaiser Chiefs tentaram, viu-se o resultado. Ia falar de Kasabian, mas não tenho um voto muito coerente na matéria porque só ouvi o segundo álbum uma vez e nem acabei. Quanto a Arcade Fire... já li muita coisa. E não que me fie muito nas críticas, especialmente nas da Blitz, mas acho que só três estrelas também é denegrir um bocado a coisa. Não tem aquela energia e tudo. Mas ninguém me tira os acordes melancólicos e tudo o mais. Nem o momento em que ouvi isto pela primeira vez:

Stop now before it's too late,
Been eating in the ghetto on a dollar plate.
Nothing lasts forever that's the way it's gonna be,
There's a great black wave in the middle of the sea for me.
Portanto que as críticas passem bem. O que interessa é o momento em que se ouve e o que vem depois e o que nos faz sentir e lembrar. E mais nada. E podem bater as palmas que quiserem ao Conor e ao Cassadaga, que eu só tenho vontade de assobiar e de lhe atirar coisas como no vídeo do Four Winds. Mas eu era a sério.
"- Vou dizer uma palavra e quero que tu me digas a primeira coisa que te ocorrer. Podes dizer uma palavra, o nome de uma pessoa ou até um som. Seja o que for. Aqui não há respostas certas nem erradas. Não há regras. Vamos experimentar?
- Dispare - disse eu.
- Família - disse ele.
- Família - disse eu.
- Desculpa. Creio que não me expliquei bem. Vou dizer uma palavra e tu dizes-me a primeira coisa em que pensares.
- Disse família e eu pensei em família.
- Mas vamos tentar não usar a mesma palavra, OK?
- OK, quero dizer, sim.
- Família.
- Carícias pesadas.
- Carícias pesadas?
- É quando um homem esfrega a VJ de uma mulher com os dedos. Certo?
- Certo. OK. Não há respostas erradas. Que tal segurança?
- Que tal?
- OK.
- Sim.
- Umbigo.
- Umbigo?
- Umbigo.
- Não consigo pensar em nada senão umbigo.
- Experimenta. Umbigo.
- Umbigo não me faz pensar em nada.
- Cava fundo.
- No meu umbigo?
- No teu cérebro, Oskar.
- Ah.
- Umbigo. Umbigo.
- Ânus do estômago?
- Óptimo.
- Péssimo.
- Não, queria dizer «óptimo». A tua resposta.
- Quer dizer «óptima».
- Bem.
- Bom.
- Festejar.
- Auff auff.
- Isso foi um latido?
- Adiante.
- OK. Óptimo.
- Sim.
- Sujo.
- Umbigo.
- Desconfortável.
- Extremamente.
- Amarelo.
- A cor do umbigo de uma pessoa amarela.
- Vamos ver se conseguimos ficar-nos por uma única palavra, OK?
- Para um jogo sem regras, este jogo tem uma data de regras.
- Dor.
- Realista.
- Pepino.
- Fórmica.
- Fórmica?
- Pepino?
- Casa.
- Onde estão as coisas.
- Emergência.
- Pai.
- O teu pai é a causa da emergência ou a solução para ela?
- As duas coisas.
- Felicidade.
- Felicidade. Iups. Desculpe.
- Felicidade.
- Não sei.
- Tenta. Felicidade.
- Sei lá.
- Felicidade. Cava.
Encolhi os ombros.
- Felicidade. Felicidade.
- Dr. Fein?
- Howard.
- Howard?
- Diz.
- Estou a sentir-me constrangido."

Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, Jonathan Safran Foer

Enough. Enough now.

Comédias românticas de Natal. Boas, más ou excelente estratégia de marketing? O Natal, regra geral, é uma época em que toda a gente, e sublinho toda a gente está no seu estado mais vulnerável. Tudo bem, pode ter estado todo o ano. Mas ver demonstrações de solidariedade e luzes em todo o lado e aquele espírito natalício de dar e receber e aquela imposição de passá-lo com quem se gosta dá outro tom a tudo. E depois há quem esconda, mas que tem ideias românticas de noites de Natal num sofá, com uma manta e uma chávena de chá quente, com alguém confortável ao lado. Que pode muito bem ser um cão, se formos pela mentalidade da pessoa que esconde-mas-que-tem. Por tudo isto, é normal que estejamos no nosso estado mais vulnerável, como já disse. Especialmente nós, pessoas solteiras há mais tempo do que seria conveniente, que se vêm forçados a passar Natal após Natal com a família e a sonhar alto com uma família of their own. E é aí que entram as comédias românticas de Natal. Para preencher o vazio e, de certa forma, piorá-lo. E há quem vá na conversa e que se sinta miserável cada vez que vê um filme em que tudo corre bem a toda a gente, mesmo aos piores dos solteirões e dos decepcionados. E que se comova com cenas como esta:


"Enough. Enough now."

Only word that I can say...

Embora isto não vá ter muitas pessoas a ler - tanto por opção como, bem, pela voz da experiência - quero desde já frisar que a nível pessoal isto vai ter muito pouco ou nada. Claro que de vez em quando algo há-de vir ao de cima, mas sempre associado com outras coisas. Sim, este vai ser um blog de coisas. Precisava mesmo de acabar de vez com os três enfadonhos anos do Windmills e começar qualquer coisa nova sem aquele estigma de três anos péssimos. Não que as coisas vão melhorar por causa disso, mas... é como se diz. Tem que se começar por algum lado. Portanto, este vai ser o primeiro, e espero eu o último durante uns tempos, post pessoal.

Hoje tive um dia como não tinha há muito, e o mais ridículo é que começou por uma coisinha de nada. Aliás, começa tudo por uma coisinha de nada, parece. Parece que bastou ter uma percepção geral, um reflexo mínimo, insignificante, para qualquer coisa de muito maior desmoronar, romper, o sinónimo que fique melhor. O que me vale é que depois destes anos todos já tenho a casca grossa, já me vou sabendo adaptar a este tipo de coisa, já sei o que me convém e o que não convém. O problema é que isso é tudo em teoria. Tudo bem, tenho que me sentir bem comigo mesma. Também há aquela frase bonita de sermos incapazes de amar quando não nos amamos a nós próprios - embora eu isso, sinceramente, acho treta. Até acho que quando nos detestamos até à ponta do pêlo mais insignificante temos mais facilidade de nos prendermos à mínima pessoa que nos ofereça uma mão e segurança e estabilidade. Mas simplesmente, não consigo. Não sei porquê, mas não consigo. Parece que por mais que tente, por mais que mude, por mais coisas que tente fazer para tentar abafar isto, está sempre qualquer coisa cá presente. Um aperto muito ténue, uma dor muito ínfima ou um aperto na garganta que tentamos disfarçar com risos forçados. Que à mínima coisa - um reflexo, como disse - dão de si.

E não é por culpa de ninguém. É de mim. Sou assim há tempo de mais para conseguir mudar. Por mais que mude e por mais estável que esteja, esta parte de mim há-de estar sempre á espreita, à espera de uma oportunidade de entrar outra vez de rompante na minha vida e me deixar vazia, sem nada, sem esperança, cheia de uma humilhação sem motivo e de um imenso desprezo e indiferença por quase tudo o que está à minha volta. E detesto isso. Mas foi só hoje. Já gastei tudo o que tinha para gastar e amanhã vai ser melhor. E depois. E depois e aquela sucessão de dias monótonos.

Enfim, chega. No livro que estou a ler diz-se qualquer coisa como a vida ser uma tragédia mas tragédia maior é termos apenas esta. E é mesmo assim. Tomamos a longevidade por garantida sem podermos. Portanto, vá. O que for, tem de ser. E hei-de cá estar para isso. Com vestígios do que fui e do que sou por todo o lado, mas estou. Sinto, respiro.

Fim do único post pessoal. Podia ter feito daqueles posts inaugurais completamente estúpidos género "blog novo hihiihihihihihi", mas não, eu vou pelo lado mais deprimente de tudo. Embora o post experimental fosse só "manamana tututururu".