Friday, January 4, 2008

momentos estúpedos no. 1

Tenho um medo terrível de andar de avião. Entro em stress horas antes, tenho sempre que tomar um calmante para além do comprimido para o enjoo e mesmo assim passo os voos inteiros sem conseguir dormir, agarrada aos braços do banco com os olhos muito abertos. Tenho a teoria de "Ok, há turbulência, mas se os hospedeiros não estão preocupados eu também não me vou preocupar". Mas para quem tem mesmo medo de andar de avião sabe que qualquer pensamento deste género nos deixa assim que sentimos o poço de ar a seguir. Graças a este medo crónico, já fiz a minha parte de figuras tristes dentro de aviões e em aeroportos, entre os quais:

- Antes do avião levantar, ouvia-se um apito insistente vindo dos bancos da frente mas eu, burra, meti na cabeça que era o avião que estava com problemas e que ninguém da tripulação se apercebia. Nota: quem tem medo de andar de avião pensa que sabe mais que a tripulação. Comecei a entrar em pânico porque já estávamos a andar e o apito não parava. Chamei um senhor. Depois de conversa e mais conversa, cheguei à triste conclusão que o apito vinha duma consola de um miúdo que se tinha esquecido de a desligar.

- Este é o mais parvo e hoje tenho mesmo muita vergonha em ter pensado o que pensei, mas uma pessoa em pânico pensa em tudo e mais alguma coisa, menos no que é racional. Foi este ano, no aeroporto de Luton, antes de embarcar para voltar para Lisboa. Estavamos todos em fila à espera que nos chamassem (um bocado à paragem de autocarro, porque isto voos lowcost são assim), até que eu reparo num homem árabe um pouco mais acima, nas escadas. Quando digo árabe, digo que encaixava em todo o estereótipo de árabe que conhecemos: o olhar duro e assustador, a barba, o turbante, a roupa. Tinha mesmo cara de mau. E o que é que eu faço? Começo a entrar em pânico. E 'o que é que ele tem na mala? o que é que ele tem no saco de plástico?'. Para agravar a situação, ele estava a ler um livro em voz alta, a murmurar o que lia, e meti na cabeça que era o Alcorão e que estava a fazer as últimas rezas (não sei se antes de um atentado se costumam fazer rezas, mas naquele dia faziam). Comecei a dizer que não queria entrar no avião. Mas entrei. Ficou umas filas atrás de mim, eu a olhar fixamente para ele. Cada vez que ele se mexia, eu virava o pescoço. O meu maior medo residia no saquinho de plástico branco que tinha abaixo dos pés e que não tinha metido dentro da mala. Levantámos voo, eu sempre atenta. Lembro-me que até vinha a ler uma crítica a um concerto de Bright Eyes com a Gillian Welch mas que não fixei nada porque pelo canto do olho estava sempre a espiar o senhor. Até que, de repente, ele se curva para tirar qualquer coisa do saco de plástico. O meu estômago encolheu-se. Ele estava com a testa franzida, como se se estivesse a concentrar nalguma coisa. Comecei a atazanar a minha mãe, a perguntar o que é que ele estava fazer e 'oh meu Deus não acredito nisto'. Ele levanta-se, e na mão trazia uma sandes do Prêt-a-Manger. Gostava só de deixar aqui bem esclarecido que ainda hoje sou gozada por este ataque de pânico e que é daquelas coisas que me gosto de lembrar para me rir sozinha. De mim. O que não é nada deprimente.

4 comments:

Virginia Woolf said...

esse teu segundo momento faz-me lembrar um texto que lemos a inglês sobre estereótipos:x mas é que é mesmo igual. o senhor nem deve ter saboreado a sande em paz :\

lyra belacqua said...

eu sei, e fiquei a sentir-me mesmo mal por ter caído no esterótipo, mas ... pronto. :x

coffee and tv said...

Cuidado! ele tem uma sandwich!!!! aposto que teve com a jenny at the hilltop xDDD...he might just putted it in his mouth thats the only way to have sandwiches;)...mas deixa la, acontece a todos pelo menos é o que eu digo para mim msm, kuando faço uma coisa destas...:)

Diana said...

lol
coitado do homem.

no metro de londres eu e a linda tb desconfiamos mt de dois homens árabes c um carrinho de bébé aparentemente vazio. coisas...