Thursday, October 11, 2007

Turn of the Screw

Turn of the screw - a metaphorical expression that signifies an unpleasant or disconcerting turn of events. However, the idiom derives from the torture chamber, where its meaning was all too literal. The "screws" were the grim instruments of torture that jailers (who also came to be known as "screws") applied to the limbs of their captives in order, usually, to extract the appropriate confession.
.Há alguns anos, quando tinha cerca de 9, 10 ou 11 anos, costumavam-me oferecer uns livrinhos da Penguin, de uma colecção chamada "Penguin Young Readers", que, basicamente, resumiam grandes clássicos da literatura num texto simples, com palavras extremamente acessíveis. Eram uns livrinhos pequeninos, que, consoante o grau de conhecimento do pequeno leitor, aumentavam o grau de dificuldade. Foi nessa altura que li, se se pode chamar isso, o Turn of the Screw, de Henry James, pela primeira vez. Aqui fica a capa dessa edição para pequeninos:


Lembro-me que me impressionou bastante. Penso ter sido dos únicos livros deste género que me ofereceram que "li" do princípio ao fim (este e acho que o My Family and Other Animals, do Gerard Durrell). Fiquei siderada com a primeira vez que a governanta vê o rosto de Quint, à janela, numa das duas torres da mansão - as imagens que o livro trazia também ajudavam. Entrei naquela paranóia própria de crianças em que via aquela cara em todo o lado e tinha medo do escuro; até de tomar banho, porque quando o vidro da banheira começava a embaciar tinha medo que aquela cara se materializasse. Li-o umas duas, três vezes, até que a fase passou.

Há dois anos, encontrei a versão integral, na Fnac, naquelas edições amorosamente baratas da Wordsworth Classics (que até em Londres são tão baratas que até dói) e, só por curiosidade, para ver como era, afinal, a versão original, trouxe-o. Só agora é que me lembrei de lhe pegar.

Sempre achei a linguagem de Henry James um pouco difícil - não difícil no termo de ser complicada de perceber, mas no sentido de ter muitos floreados, de pôr palavras a mais para chegar a uma certa ideia. Tentei ler o Portrait of a Lady, quer em inglês, quer em português; no primeiro caso, o floreado foi tanto que comecei a confundir os personagens presentes na cena, no segundo, penso ter sido a tradução. Mas ainda não desisti. O outro contacto que tive com o senhor foi com uma biografia romanceada, O Mestre, cujo autor agora não me ocorre, e que também achei entediante. Desse já desisti. O mesmo acontece com Turn of the Screw, a linguagem floreada, a complexidade.

O livro narra a história, na primeira pessoa, de uma rapariga que, no primeiro momento, vai a uma entrevista para um trabalho como perceptora de duas crianças, numa mansão de campo em Bly. Consegue o trabalho, mas fica curiosa com a atitude do patrão, que pede-lhe para não lhe comunicar o que quer que seja que tenha a ver com a casa e com as crianças. O receio que tinha dissipa-se ao ver, pela primeira vez, a rapariga, Flora e, mais tarde o irmão, Miles, crianças que ela descreve como parecendo dois anjos na terra, incapazes de qualquer mal (este tipo de descrições são um bocadinho monótonas; parece aquela pureza e lamechice do Romantismo bucólico inglês, com os passarinhos no campo e a luz do sol e as flores). Contudo, certa tarde, numa das poucas horas que tem só para si, a meio de um passeio, vê um homem a olhar fixamente para ela do alto de uma das duas torres da mansão. Um homem bem-parecido, segundo ela. Impressionou-a o facto de ele nunca tirar os olhos dela, mesmo quando se movia. Intrigada, pensou perguntar aos outros empregados da casa, mas algo nela disse-lhe que eles tão pouco sabiam da presença do estranho naquela casa (pelo meio há uma referência à Bertha de Jane Eyre, como exemplo de um familiar preso na cave, um segredo de família inominável). Mais tarde, vê outra figura, desta vez uma mulher. São os primeiros acontecimentos que vão desencadear uma acção cheia de suspense e paranóia, suspense esse ajudado pela mansão em si, que aos poucos vai perdendo o seu carácter bucólico e ganhando tons mais sinistros e pelo isolamento daquelas pessoas.

Li algures que um dos grandes méritos do livro é deixar ao critério do leitor se a narração é uma verdadeira descrição dos factos, ou se revela uma paranóia, uma neurose interior na própria perceptora, que imagina tudo aquilo. Não sei. A opção da neurose torna as coisas muito mais interessantes do que o ser simplesmente mais uma história de fantasmas, e claro que torna tudo um pouco mais credível para os mais cépticos.

Turn of the Screw foi alvo de várias adaptações para o cinema, sendo a mais memorável a intitulada The Innocents, da qual foram extraídas as imagens do livrinho que tanto me impressionou quando era mais nova. Também serviu de base para esta coisa maravilhosa:




Como sugestão de um autor de ghost stories absolutamente brilhantes, já que se está a falar do tema, fica o senhor M. R. James (que tem um conto sobre um quarto número 13 que me veio imensas vezes à cabeça quando estava a ver o 1408, especialmente naquela parte em que ele põe a cabeça de fora e se vê a ele próprio no prédio do outro lado da rua - não tem nada a ver, mas fez-me lembrar).



E foi o post pseudo da semana.

2 comments:

Alf said...

Nunca li nada de Henry James, mas depois de ler o "Autor, autor!" do David Lodge ficou-me uma vontade imensa de o ler...

Diana said...

isto lembra-me q tenho q arranjar qq coisa p ler