Ia dizer Russell Square, mas podia estar a dizer uma grande asneira.
Idem.
^^
Keats' House
Sítio onde não me importava de viver
Sítio onde não me importava de viver II (Burgh House, Hampstead Heath)
Saudades.
"I'm feeling rough, I'm feeling raw, I'm in the prime of my life."
Ia dizer Russell Square, mas podia estar a dizer uma grande asneira.
Idem.
^^
Keats' House
Sítio onde não me importava de viver
Sítio onde não me importava de viver II (Burgh House, Hampstead Heath)
Saudades.
Rose Garden, Holland Park
Holland Park
Rose Garden, Holland Park
King's Cross/St. Pancras (São Pâncreas)
O edifício está a ser remodelado para um hotel, acho eu. O que é estranho, dado aquela zona ter a fama que tem.
British Library <3
Dizem que o Julian Barnes é um dos mais conceituados autores de literatura inglesa contemporânea - se é, não sei. Não fui pelo nome, não fui pelo título, fui pela crítica - que é coisa que muito, muito raramente faço. Já o tinha visto, já o tinha visto na mão, mas quando vi que era sobre Sir Arthur Conan Doyle não fiz muito caso porque pensei que fosse aldrabice. Depois li que era baseado em factos verídicos, o interesse cresceu e digamos que é um livro muito bom.
De facto, aborda factos verídicos, e extremamente bem documentados (como o autor escreve numa nota, só uma das cartas é fictícia). Fala da vida de Sir Arthur Conan Doyle e de George Edalji separadamente, juntando-se os dois só nos capítulos finais. O tema central é um caso verídico, que ficou conhecido como Os Ultrajes de Great Wyrley, que consistiu na acusação e sentença injustas a trabalhos forçados de um homem, George, que se viu alvo de provas mal fabricadas e teorias da conspiração devido a um certo preconceito racial - mesmo que o próprio o pensasse impossível. Sir Arthur Conan Doyle, numa fase especial da sua vida, leu de relance o caso de George, e empenhou-se em provar a sua inocência, limpar o seu nome e devolver-lhe a vida que perdeu depois de sair da prisão.
Para além de estar extremamente bem escrito, ser uma história verídica bem documentada e corresponder a uma época que gosto muito, gostei sobretudo de saber mais sobre a vida de Arthur Conan Doyle. Durante alguns anos desenvolvi uma obsessão pouco saudável pelos livros do Sherlock Holmes e pela série com o Jeremy Brett (que agora passa na RTP Memória), mas sabia muito pouco do génio por trás de toda aquela lógica, dedução e brilhantismo. Descobri um homem que se sentia escravo da sua própria criação, que preferia ter escrito romances históricos toda a vida e um fervoroso seguidor do espiritismo, que naquela altura começava a ter maior amplitude.
Depois também há aquela coisa interessante de se ler a coisa certa na altura certa. Neste caso nem foi tanto a coisa certa nem a altura certa, foi mais um eco de um assunto que me anda a provocar imensa ansiedade - aliás, que a provoca há imensos anos, mas que ultimamente se tem acentuado. Revi muito do que penso sobre o assunto e que me deixa completamente em pânico aqui:
"E, nesse momento, George foi assaltado pela consciência de que todos iam morrer. Às vezes reflectia na sua própria morte; sofrera com a morte dos pais - o pai há doze anos, a mãe há seis; lera a necrologia nos jornais e assistira a funerais de colegas; e estava aqui para a grande despedida a Sir Arthur. Mas ainda nunca compreendera - embora fosse mais uma consciência visceral do que uma percepção mental - que todos iam morrer. É certo que fora informado em criança, embora no contexto de passarem todos - como o tio Compson - a viver depois, no seio de Cristo ou, se fossem maus, noutro lugar qualquer. Mas agora olhou em redor. O príncipe Alberto já estava morto, é claro, e também a viúva Windsor, que o chorara; mas aquela mulher com um guarda-sol ia morrer, e a mãe ao lado dela morreria antes, e as crianças pequeninas morreriam depois, mas se houvesse outra guerra os rapazes podiam morrer antes, e os dois cães ao pé delas iam morrer também, e os músicos ao longe, e o bebé no carrinho, até o bebé no carrinho, mesmo que vivesse até ser tão velho como o habitante mais velho do planeta, cento e cinco, cento e dez, ou o que era, aquele bebé ia morrer também."
p. 419
Podia ter escrito mais qualquer coisa, mas tenho a cabeça lá longe no meio de coisas que me interessam mas que sou completamente inapta para as seguir academicamente.
Estava a almoçar e a ver um programa sobre cinema e afins, vi isto e lembrei-me de uma coisa de gente parva com dinossauros e coisas do género. Mas não tem piada. Gente parva.
Lembro-me que me impressionou bastante. Penso ter sido dos únicos livros deste género que me ofereceram que "li" do princípio ao fim (este e acho que o My Family and Other Animals, do Gerard Durrell). Fiquei siderada com a primeira vez que a governanta vê o rosto de Quint, à janela, numa das duas torres da mansão - as imagens que o livro trazia também ajudavam. Entrei naquela paranóia própria de crianças em que via aquela cara em todo o lado e tinha medo do escuro; até de tomar banho, porque quando o vidro da banheira começava a embaciar tinha medo que aquela cara se materializasse. Li-o umas duas, três vezes, até que a fase passou.
Há dois anos, encontrei a versão integral, na Fnac, naquelas edições amorosamente baratas da Wordsworth Classics (que até em Londres são tão baratas que até dói) e, só por curiosidade, para ver como era, afinal, a versão original, trouxe-o. Só agora é que me lembrei de lhe pegar.
Sempre achei a linguagem de Henry James um pouco difícil - não difícil no termo de ser complicada de perceber, mas no sentido de ter muitos floreados, de pôr palavras a mais para chegar a uma certa ideia. Tentei ler o Portrait of a Lady, quer em inglês, quer em português; no primeiro caso, o floreado foi tanto que comecei a confundir os personagens presentes na cena, no segundo, penso ter sido a tradução. Mas ainda não desisti. O outro contacto que tive com o senhor foi com uma biografia romanceada, O Mestre, cujo autor agora não me ocorre, e que também achei entediante. Desse já desisti. O mesmo acontece com Turn of the Screw, a linguagem floreada, a complexidade.
O livro narra a história, na primeira pessoa, de uma rapariga que, no primeiro momento, vai a uma entrevista para um trabalho como perceptora de duas crianças, numa mansão de campo em Bly. Consegue o trabalho, mas fica curiosa com a atitude do patrão, que pede-lhe para não lhe comunicar o que quer que seja que tenha a ver com a casa e com as crianças. O receio que tinha dissipa-se ao ver, pela primeira vez, a rapariga, Flora e, mais tarde o irmão, Miles, crianças que ela descreve como parecendo dois anjos na terra, incapazes de qualquer mal (este tipo de descrições são um bocadinho monótonas; parece aquela pureza e lamechice do Romantismo bucólico inglês, com os passarinhos no campo e a luz do sol e as flores). Contudo, certa tarde, numa das poucas horas que tem só para si, a meio de um passeio, vê um homem a olhar fixamente para ela do alto de uma das duas torres da mansão. Um homem bem-parecido, segundo ela. Impressionou-a o facto de ele nunca tirar os olhos dela, mesmo quando se movia. Intrigada, pensou perguntar aos outros empregados da casa, mas algo nela disse-lhe que eles tão pouco sabiam da presença do estranho naquela casa (pelo meio há uma referência à Bertha de Jane Eyre, como exemplo de um familiar preso na cave, um segredo de família inominável). Mais tarde, vê outra figura, desta vez uma mulher. São os primeiros acontecimentos que vão desencadear uma acção cheia de suspense e paranóia, suspense esse ajudado pela mansão em si, que aos poucos vai perdendo o seu carácter bucólico e ganhando tons mais sinistros e pelo isolamento daquelas pessoas.
Li algures que um dos grandes méritos do livro é deixar ao critério do leitor se a narração é uma verdadeira descrição dos factos, ou se revela uma paranóia, uma neurose interior na própria perceptora, que imagina tudo aquilo. Não sei. A opção da neurose torna as coisas muito mais interessantes do que o ser simplesmente mais uma história de fantasmas, e claro que torna tudo um pouco mais credível para os mais cépticos.
Turn of the Screw foi alvo de várias adaptações para o cinema, sendo a mais memorável a intitulada The Innocents, da qual foram extraídas as imagens do livrinho que tanto me impressionou quando era mais nova. Também serviu de base para esta coisa maravilhosa:
Como sugestão de um autor de ghost stories absolutamente brilhantes, já que se está a falar do tema, fica o senhor M. R. James (que tem um conto sobre um quarto número 13 que me veio imensas vezes à cabeça quando estava a ver o 1408, especialmente naquela parte em que ele põe a cabeça de fora e se vê a ele próprio no prédio do outro lado da rua - não tem nada a ver, mas fez-me lembrar).
E foi o post pseudo da semana.
"Sinto-me forçado a procurar ajuda nos livros, pois nesta terra de laranjas e limões e de humanos com cabeça de abóbora, há muito poucas pessoas com quem possa discutir assuntos históricos e políticos."
Desde pequenina que tenho um fascíncio algo parvo por este senhor, desde o dia em que abri o Grande Livro dos Portugueses e vi lá o quadrinho. Tenho vindo a comprar tudo o que vejo relacionado com ele - até um livro infantil escrito, também, por Maria Filomena Mónica -, até a ensaios sobre caminhos-de-ferro no séc. XIX relacionados com as viagens que fez pela Europa. Portanto, foi muito bom ter encontrado um livro que sintetiza toda essa informação que tenho vindo a recolher. Extremamente bem documentado, e nada maçante, é uma biografia extremamente interessante sobre "o primeiro homem moderno português", um homem depressivo, melancólico, misantropo, que desprezava as falhas do país que lhe tinha calhado governar, que aspirava pela modernização deste mas que se deparava com a apatia geral. Continuo a dizer que, se não tivesse governado apenas seis anos, teria sido, provavelmente, o rei que mais teria feito para o desenvolvimento do país. Infelizmente, morreu cedo e sucedeu-lhe o irmão, que pronto, aparentemente era ligeiramente diminuído intelectualmente e, ao ver de D. Pedro, incapaz de se dedicar e de empreender as mesmas coisas do mesmo modo.
Por outro lado, era extremamente pedante e snob. Mas com a inteligência que tinha, quem não seria.
Numa altura em que as obras de Stephen King têm sido assassinadas no grande ecrã, chega-nos 1408. E o que é 1408? É a história de um escritor, Mike Enslin que, depois de um primeiro romance promissor, e devido a acontecimentos traumáticos na sua vida, se dedica à escrita de livros sobre o paranormal, guias de casas assombradas e derivados. Sem acreditar em nada do que escreve. Um dia recebe um postal de NYC, com o Dolphin Hotel apenas com as palavras "Do not enter 1408" escritas no verso. And the rest is history.
Talvez 1408 seja a primeira boa adaptação de um livro de Stephen King que vemos há algum tempo. Já li algures que não é completamente fiel ao original, mas que, em vez disso, transporta na perfeição o ambiente de paranóia e claustrofobia e medo e pânico presente nas suas páginas. Quanto a isso não sei, porque nunca o li. Mas acredito. Como acontece com Sunshine, sentimos realmente que estamos ali dentro, devido a uma série de pormenores, mas particularmente devido aos sons. Especialmente a parte daquele apito irritante dentro da cabeça, toma-nos por completo. A certo ponto parece que também nós estamos a entrar naquela paranóia, a sentir aquele pânico e aquele desejo de sair como se a nossa vida dependesse disso. Quando ele pensa que sai, é aquela sensação de alívio que sentimos quando conseguimos acordar de um pesadelo particularmente terrível, só para segundos mais tarde regressarmos a ele e voltarmos a mergulhar na angústia e no medo. Nestes pontos, está muito, muito bem conseguido. Pontos para o John Cusack, que é um dos meus favoritos e que já não via há algum tempo a desempenhar algo com tanto empenho. Claro que o filme também perde. Deve ser sina de thrillers e filmes de suspense, a partir do meio, ou de alguns minutos depois do meio, começam a tornar-se algo repetitivos... começamos a pensar coisas como "o que é agora", cada vez que voltamos a ouvir outro barulhinho. Mas gostei. Gostei muito.
Como exemplo de outra adaptação de S.K. que achei muito boa, fica isto:
A parte curiosa é que um dia estava a ver um programa muito mau chamado Beyond Bizarre, num canal que não vou dizer qual é para não manchar possíveis reputações (estava só a fazer zapping, verdade verdadinha), em que estavam a falar duma mansão, a mansão Winchester se não estou em erro, cuja história era parecidíssima com a de Rose Red. Armei-me, fui investigar, e era mesmo. Stephen King baseou-se na história de Sarah Winchester, que acreditava ter espíritos à sua volta que lhe diziam para nunca deixar de construir, para continuar a adicionar divisões, anexos, o que fosse à casa. Até li que a mini-série era para ser filmada lá, mas acho que por obras não foi possível. Não me lembro bem. A Winchester House é esta:
E tem coisas como escadas que não vão dar a lado nenhum, portas que quando se abrem ou têm uma parede, ou se uma pessoa não está calhada cai lá abaixo, coisas do género. Ainda hei-de ler mais coisinhas sobre isto, que casas antigas com história são uma paixão muito minha.
Chega de nerdice. Vou para casa.O Slade.
Isto da chuva tem o seu lado bom, que é poder andar na rua com um guarda-chuva igual ao que mais abaixo se vai mostrar e ter gente com "aquele aspecto" a apontar e a dizer:
- Éah azule.
Como se nunca tivessem visto nada parecido em todas as suas vidinhas deprimentes e desprovidas de qualquer actividade que não seja sentar o rego no banco do jardim a ver passar as moças e ir a jogos do FêCêPê aos Domingos, mas assim cedinho cedinho para marcar lugar e à hora do jogo estar com uma bebedeira tal que saem do estádio sem saber quem ganhou ou quem perdeu.
É azule.
Porque nos dias que correm, armar-me em Kitten Braden é a ordem do dia. É o melhor a fazer, quando há atitudes que pura e simplesmente não se percebem, que vêem de onde menos se espera. Mas já estamos seres tão empedernidos que já achamos curioso e nos perguntamos "que raio foi agora".