Sunday, April 6, 2008

"Percorri o corredor até ao quarto. Dee Dee estava estendida na cama, em calcinhas. Um dos braços cobria os olhos. Os seus seios eram fabulosos. Havia uma garrafa de whisky vazia junto à cama e um bacio. O bacio cheirava a vómito e a álcool.
- Dee Dee...
Ela levantou o braço.
- O quê? Hank, voltaste?
- Não, espera, quero apenas falar contigo...
- Oh! Hank, senti tanto a tua falta. - Pôs-se a chorar. - Estive quase a enlouquecer, a dor foi horrível...
- Eu quero torná-la mais fácil. Foi por isso que vim. Talvez seja idiota, mas não acredito na crueldade gratuita...
- Não imaginas por que passei...
- Imagino, sim. Também passei por isso.
- Queres uma bebida? - perguntou.
Agarrei na garrafa vazia e pousei-a tristemente.
- Há muita frieza neste mundo, - disse eu. - Se as pessoas aceitassem falar nos seus problemas, isso facilitava as coisas.
- Fica comigo, Hank. Não voltes para ela, por favor. Por favor. Vivi o suficiente para saber como tornar-me uma mulher prestável. Sabes isso. Serei boa para ti, só para ti.
- Estou preso a Lydia. Não consigo explicar.
- Ela é uma leviana. É impulsiva. Ela deixar-te-á.
- Talvez seja por isso que ela me atrai.
- Tu queres uma puta. Tens medo do amor.
- Talvez tenhas razão.
- Beija-me. Será muito pedir-te que me beijes?
- Não.
Estendi-me do lado dela. Beijámo-nos. A boca dela cheirava a vómito. Ela beijou-me, beijámo-nos, apertava-me contra ela. Desembaracei-me o mais gentilmente possível."


C. Bukowski, Mulheres

3 comments:

Skizo said...

Tomás!!

Virginia Woolf said...

omg! não sabia que andavas a ler isso... gostei bastante desse livro.

lyra belacqua said...

é, eu de vez em quando lá leio uma coisa decente :x