Monday, December 3, 2007

Tenho tido a sorte de apanhar alguns filmes mudos na televisão. No Sábado, na Sessão Dupla da RTP2 deu o A Woman of Paris do Chaplin e ontem no TCM estava a dar outro que ainda ando à procura do nome. Descobri que há algo mágico, cativante mas ao mesmo tempo ligeiramente creepy nestes filmes. O creepy é sobretudo por causa dos actores algo fantasmagóricos, com as caras demasiado brancas e demasiada maquilhagem. Mas ao mesmo tempo, fica-se preso ao filme. É fascinante descobrir os inícios duma coisa tão comercializada hoje em dia. Estes filmes são os primeiros romances, os primeiros mistérios, as primeiras intrigas da história do cinema, e por isso são ainda mais trágicos e mais dramáticos. A música dramática e emotiva torna-se como que o principal narrador da história, servindo de complemento às expressões demasiado teatralizadas dos actores. As falas por vezes até se tornam dispensáveis, tão simples é compreender o que se passa com a junção da música com a representação.

O A Woman of Paris é absolutamente trágico. Um casal que planeia fugir para Paris, mas devido à morte do pai dele, ela parte sozinha sem saber o que realmente se passou. Tempos depois, ela torna-se numa coquette parisiense, frequentadora de salões e alvo das atenções dos solteiros mais ricos. Até que ele aparece. E ela não lhe liga. O ciúme apodera-se dele, e tudo culmina na morte do rapaz. A mãe, para se vingar, tenta matar a rapariga, mas rende-se ao vê-la a chorar debruçada sobre o corpo do filho morto. Tudo acaba bem. Ou seja, a trágica morte do rapaz foi necessária para a moral da história. No filme do TCM isso também acontecia. Dois amigos de infância separados por causa duma mulher enfrentam-se num duelo, enquanto ela corre para os impedir de se matarem um ao outro. Acaba por quebrar o gelo fino sobre o qual corria e cai à àgua. Morre. Segundos depois, os dois amigos apercebem-se que a amizade deles ter chegado àquele ponto por causa duma mulher é absurdo, e tudo acaba em bem.

São histórias moralizantes, que recorrem ao expoente do drama, como já disse, acentuado pela música. Tenho muita vontade de ver mais uns quantos, especialmente o Sunrise do Murnau que dizem que é interessante (embora o Nosferatu tenha sido uma experiência surreal - "devem pensar que isto é o Shrek!").


"A Woman of Paris", Charlie Chaplin

O curioso é que eu nem sou grande fã do Charlot.

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