Tuesday, December 4, 2007

so imagine what you want...

São 2:42 da manhã. Geralmente, a esta hora, para além do sono que esteve comigo o dia todo se ter dissipado por completo, estou no meu estado mais vulnerável. Quando tenho companhia, dá-me para falar incessantemente; mas em noites como esta, dá-me para a disposição completamente oposta. Vi fotografias do primeiro ano no Porto, e algumas do segundo... e alguns vídeos do segundo. Para além das diferenças gritantes, tenho umas saudades enormes daquelas noites de tédio no café com um bloquinho e um Favaíto ao lado, a conversar com pessoas que já não estão comigo e a azucrinar a pessoa do costume. Sinto falta dela, de como pressentia quando as coisas não estavam bem e quase me arrastava pela manga do casaco até casa dela e me deixava ficar ali descontroladíssima no sofá, a ver porcaria na televisão, com ela a dizer parvoíces para me pôr a rir e a fazer-me chá. Sinto falta daquela força de viver que ainda hoje é a L. Mesmo já não mantendo contacto, olho para ela como um exemplo a seguir, de alguém que perdeu muito na vida mas nunca abandonou o bom humor, a boa disposição e a força de vontade. Foi um primeiro ano de experiências que nunca tinha pensado conseguir alcançar, de um estilo de vida completamente despreocupado, influenciado pelas pessoas de teatro, de deixar as coisas fluir com calma e aproveitar as horas, os minutos, o que fosse. Até que a minha velha companheira me voltou a bater à porta.

Não sei como é suposto conseguir continuar e ter força de vontade quando tenho o passado insistentemente a dar-me estaladas na cara todos os dias. Todos os dias não; todos os dias quando estou

. Quando não estou, é a angústia de não estar e de estar a levar a minha vida outra vez para o fundo, com pessoas a atirarem-me cordas mas sem saber qual escolher, para onde ir, o que fazer. Mas custa-me mundos estar lá e ver que a vida continua sem mim. Que uma relação que eu idealizei demasiado já não existe por razões que eu não sei quais são, e que uma coisa que eu desejei tanto e que quase tive, de um dia para o outro acabou. Ver como as pessoas mudam, como as coisas mudam, como a vida muda... como todos mudam, mas como eu fico sempre no mesmo sítio, a vê-los mudar. Sei que fico no mesmo sítio porque não faço nada para sair de lá, mas que posso fazer? Custa-me demais. Sinto a nossa falta, daquelas horas de almoço sem fazer rigorosamente nada, mortos de tédio mas sem coragem de assumir isso porque estávamos a fazer companhia um ao outro. Da confiança, do motivo para me levantar todos os dias e pensar que afinal as coisas não eram tão más como sempre as imaginei, que secalhar até podia ser que viesse a ter sorte. Tive-a durante uns meses. Depois, veio esta merda outra vez.

Com este fluxo de pessoas que vieram e que foram, posso dizer com toda a certeza que só uma é que esteve intermitentemente presente durante estes (quase) três anos. E obrigada.

São 2:54 da manhã. Daqui a quatro horas, supostamente, tenho que estar a pé. Mas já sinto aquele dilema entre a parte boa e a parte má e não sei se vou conseguir. Isto é uma coisa curiosa. Vem sempre quando uma pessoa menos espera, pelos motivos mais abusrdos. Talvez porque nunca se foi embora. Esteve sempre lá à espreita de um momento de fragilidade, de vulnerabilidade. E possui-nos de novo por completo, e tudo deixa de fazer sentido outra vez. Gradually, then suddenly.

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