Tuesday, May 1, 2007

Por baixo do tapete do quarto dos meus pais há um alçapão, por onde quem entra nunca mais volta a sair. E eu entrei. Não há luz nenhuma, e desce-se por uns degraus íngremes, húmidos, que rangem ao mínimo peso. Chega-se ao fundo da escada ao que parece ser uma casa-de-banho pública, com vários compartimentos de cada lado e um corredor estreito a meio. O cheiro a porcaria e a vomitado é nauseabundo. As portas estão cheias de uma mistura de ferrugem com algas e uma substância gordurosa. Ouvem-se gritos e o som de unhas a raspar no metal, pessoas desesperadas por quererem sair. Ouve-se gente a vomitar. Uma das portas está entreaberta e eu espreito. O cubículo contém apenas uma sanita sujíssima. Ao canto está uma pessoa, de olhar tresloucado, aninhada em posição fetal. A pele com aspecto pastoso, a roupa rasgada com restos de vomitado. O chão imundo, com bichos a correr de um lado para o outro. Não consigo olhar mais, continuo em frente. Começo a querer sair dali, julgo ainda ter tempo porque ninguém me viu, mas sei que já não há retorno possível. Vejo um grupo de presos a subir as escadas com cestos de roupa na mão e sigo-os. Eles vêem-me, mas não se manifestam. Há uma porta ao lado por onde eles entram, que dá para um quarto mobilado, com sofás, com tudo. Começam a falar baixo, e eu percebo que aquela altura é a única que têm para falar uns com os outros, mas que tremem de medo de serem apanhados. Percebo que estão ali por terem sido curiosos em saber o que estava por baixo do alçapão, e que as pessoas por trás lhes estão a fazer experiências, cujo primeiro passo é injectar-lhes um líquido no sangue que os faz vomitar a essência da sua vida anterior. Alguns deles já não sabem quem são, são meras cascas à espera de serem preenchidas com algo novo. Quero sair, mas não consigo e não posso. Até que ouço uma voz vinda lá de cima, do quarto dos meus pais, que diz "Vamos mudar de tapete."

E depois acordo.

2 comments:

Hobbes IV said...

Freaky, ainda may freaky que o próprio sonho é lembrares-te dos detalhes :x

lyra belacqua said...

Acredita. Uma vez passei um dia enjoada porque tinha sonhado que estava a comer pastéis de nata. A coisa entranha-se em mim, mesmo.