Sunday, May 13, 2007

Em Criaturas do Ar, Fernando Savater continua o que já tinha iniciado em A Infância Recuperada, que ainda me falta ler. Através de trinta monólogos (o trigésimo-primeiro sendo o seu) coloca personagens do mundo literário a falar na primeira pessoa, contando-nos as suas experiências, desejos, ideias. Achei a ideia giríssima, porque permite analisar estes personagens de um ângulo algo diferente daquele que o autor original lhes deu. Há sempre uma ideia nova, algo em que nunca pensamos, metáforas para a nossa própria vida. Para além de ter gostado da ideia, também o comprei porque três dos personagens são dos que mais me dizem: Drácula, Mr. Hyde (Dr. Jekyll) e Peter Pan. Fiquei satisfeita com a abordagem feita a Mr. Hyde. Toca na constante luta de Jekyll em o suprimir, acabando com um "Maldito Jekyll, porque me tiras o que mais desejas?", referindo-se à vida livre e amoral que essa outra personalidade lhe permitia levar. Adorei o Drácula, pela diferente perspectiva entre vida e morte, luz e sombra. O só se poder viver a vida na sua plenitude estando bem morto. Lembrou-me algo que li que dizia que as pessoas só se sentem verdadeiramente ligadas à vida instantes antes de a deixarem. Que é naquele minuto crucial, entre um mundo e outro, que desejam ter passado o tempo a matar o tempo, a queixar-se, a complicar e a desejar desaparecer. Acredito nisso com uma força incrível. O que me faz tentar viver pelas regras do aproveitar o dia, ou, como diz Phileas Fogg no Monólogo Undécimo, caso o dia seja feito de rotina, saber apreciar as pequenas diferenças que a própria rotina nos trás - que é essa a maravilha de uma vida rotineira. Só que por vezes se torna complicado. O observar as diferenças, observo; sempre fui extremamente observadora e raramente me escapa alguma coisa - aliás, até me apercebo de coisas que não quero. Agora gostar delas, apreciá-las e fazer delas o meu dia... mas isso é outro caso.
A grande surpresa foi Tarzan, personagem que nunca apelou muito ao meu sentimento e história que sempre me passou ao lado. Fala do pânico, das diferenças entre o pânico que ele sente e o pânico que os animais sentem. E quais são elas?

"... careço do que torna suportável aos outros animais a proximidade do pânico: não posso esquecer e em contrapartida posso imaginar."

Isto encheu-me as medidas. Porque a imaginação e a memória são, simultaneamente, o que temos de melhor e o que temos de pior, o que nos impede de seguir em frente e o que nos tira o chão debaixo dos pés quando menos queremos, paralisando-os num estado de nostalgia que nos consome durante horas que passam mais lentamente que o costume. E tornam o nosso pânico, o "pânico humano", chamemos-lhe assim, muito pior que o pânico que um animal irracional sente. Um animal não consegue imaginar uma situação que o paralise; nem tem memória para se lembrar de agruras anteriormente sofridas. Vai vivendo.
Também gostei de Desdémona, da sua ilusão ao pensar que, quando Otelo se aproxima do seu leito dizendo as fatais palavras "É esta a causa..." é em jeito de reconciliação, e a felicidade que sente naquele momento em que pensa que vai voltar a ter a atenção de seu marido.
Fiquei desiludida com Peter Pan. Acho que podia ter falado mais no ser-se criança para sempre, o não se querer crescer e ir um bocadinho mais por aí.
No geral, é uma ideia giríssima, para ser lido monólogo a monólogo - porque tudo de seguida provavelmente é capaz de cansar.

Ao mesmo tempo, tenho andado com isto dentro da mala de um lado para o outro.





É o típico caso de um filme estupidamente mal feito, e Alan Moore, compreendo finalmente a tua raiva. Não tem mesmo nada a ver, com nenhum dos volumes, por sinal. E o Tom Sawyer e o Dorian Gray? Porquê inventar? O primeiro volume está giríssimo, adorei a maneira como se recriou aquele inglês pomposo da época Vitoriana. Adorei o facto de a Mina aqui ser Mina Murray e não Mina Harker - porque sim, continuo a abominar o Jonathan. Vou agora para o próximo, que tem imenso a ver com o War of the Worlds. Mas assim imenso. E mesmo a maneira como está feito, faz lembrar folhetins de jornais da época, ou aqueles cartazes que se punham à porta dos teatros e circos londrinos a anunciar os espectáculos, com coisas mirabolantes e afins.

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