Saturday, April 28, 2007

Feathers, sweat and tears

Tenho que confessar que não estava nada virada para me meter no Coliseu e só sair de lá às 23.30, ainda para mais sozinha, numa altura que chego às 19 e já não estou para ninguém. Mas tinha gasto o dinheiro, e mais valia não o desperdiçar, como aconteceu com o Rent e outros que tais (felizmente desta vez não perdi 15€ a mais). E depois porque sei que me arrependo sempre. Portanto, coração ao alto, lá fui.

Cheguei cedo de mais, o que já se vai tornando hábito. Como não me dou bem na plateia tento sempre chegar a uma hora que me garanta aquele lugarzinho óptimo nas bancadas que me dá para ver tudo, de cima, sem cabeças à frente, e que me tem dado sempre recompensas giras. Tive companhia e encontrei companhia para essa altura, mas para a altura pior, a da espera, contentei-me em massacrar uma pessoa que não sei quem é mas que muito me tem aturado. Ao mesmo tempo ia-me dedicando a ver quem chegava, como chegava e a tentar apanhar situações estúpidas para ter algo que contar. Apanhei imensas. Mas isto é um sítio público, não quero revelar nada que me possa vir a comprometer que já me bastou ter sido agredida ontem na correria para a sala. Mas há vídeos para quem quiser cuscar. Vídeos muito maus em que é quase preciso lupa. Continuando. A coisa positiva é que eles andam com um DJ atrás, o que nos poupou daquela música de elevador que o Coliseu tem antes da primeira parte e durante o soundcheck. Não que aprecie aquele género, mas foi giro quando passou a InBetween Days de Cure assim do nada. A primeira parte foi Loto. Não que tenha sido mau, não foi. Mas não consigo gostar de primeiras partes; quer dizer, consigo gostar, mas não me consigo envolver em tudo. Estou com as vistas já postas no que vem a seguir e quero que tudo acabe depressa. Por acaso... acho que não deviam haver primeiras partes. Nem é por isto que acabei de dizer. É mais porque deve ser frustrante para quem está a tocar saber que aquela gente toda está ali para ver outra banda que não eles e que 80% dessas pessoas só quer que acabem de tocar depressa para o concerto a seguir começar. É que até o DJ deles a certa altura começou a ser assobiado.

E começou. Por mais coisas que veja, sinto sempre um nervoso tremendo antes de começar. Especialmente quando são bandas que gosto mesmo, ou bandas com as quais andei obcecada, como foi o caso lá para Dezembro. Antes de Blur entrarem, toda eu tremia. Tinha sido muito ano a esperar, e finalmente vê-los era uma coisa com a qual eu nunca tinha contado, nem quando tinha 13 anos e os ouvia repetidamente, porque sabia que era uma coisa muito improvável. Aliás, porque tenho o dom de começar a gostar de bandas ou quando estas acabaram ou quando estão em pausa, o que torna tudo mais impossível. Essa vez foi mesmo a que estava mais nervosa. Continuando. Lá entraram, claro que sem o Jake Shears e a Ana Matronic para criar sabe-se lá o quê, mas eventualmente teve que ser. Veio tudo abaixo. Bastou ele pôr o sapatinho de salto branco no palco que vindas sabe-se lá de onde surgiram imensas bandeiras gay, e gritos, e histeria e um rapaz na fila da frente quase a descabelar-se a gritar o nome dele. (Razão número 2 por adorar aquele lugar: acesso livre às figuras das pessoas das primeiras filas).

Começaram com a She's My Man, e depois perdi-me. Acho que foi a Laura e depois, para minha grande surpresa, a I Can't Decide, mas depois é que me perdi mesmo. Ou então foi ao contrário. Não sei. Estava ali para aproveitar e não para me pôr com olho de observadora e crítico e anotar tudo. Não consigo aproveitar e gostar das coisas assim. Se vou para uma coisa, é para ir e estar lá e sentir tudo o que há para sentir. Neste caso, querer ser o Jake. É favor não perguntar, mas eu nestas situações altero-me um bocado. Sei que passadas umas duas ou três músicas, ela disse algo como 'now we've done the foreplay, let's go to second base'... e que a partir daí, até pessoas nas bancadas do outro lado que estavam relativamente quietas - aquele dançar tímido de abanar a anquinha e o pé - já estavam de braços no ar, a imitar os gestos quer do Jake, quer da Ana. Foi fantástico. Eles têm um carisma enorme, conseguem puxar até pela pessoa que menos esteja inclinada a dançar, e criam um ambiente mesmo... eléctrico, energético, de frenesim e de tudo. Acho que mesmo que não conhecesse nada deles tinha adorado na mesma. Tudo o que se passa no palco é extremamente teatral e encenado. Das roupas às poses, das danças aos gestos. Não estamos a ver apenas um concerto de "música", mas sim uma mistura de várias coisas, que roça o vaudeville, até aterrar no mais puro estado glam. É impossível tirar os olhos do que se passa em palco, porque cada um está a fazer algo diferente. É mesmo, e sublinho o mesmo, contagiante. Não tocaram a Return to Oz. Nem esperava, claro. Só tive assim uma muito pequena esperança que isso acontecesse por ser o último concerto da tour europeia e quererem fazer algo de diferente e de maior.

Momento alto? Aqui vai.

Para quem não conhece o Coliseu é um bocado difícil de visualizar, mas talvez depois pelas fotografias manhosas dê para perceber. Tem-se o palco com a plateia em frente, mas logo ao lado do palco começam as bancadas e, ficando nos degraus que dão acesso às bancadas, agarrado ao corrimão, tem-se uma vista perfeita e sem obstáculos de tudo o que se passa. É aí que aposto sempre em ficar, e é aí que geralmente as coisas acontecem. Aconteceu em Placebo, embora não tivesse lucrado nada com isso; aconteceu em Velvet Revolver, embora também não tenha lucrado nada com isso. E aconteceu com Scissor Sisters, embora tenha lucrado imenso com isso. Pois bem, acabou então o set, começou a encore com a Take Your Mamma, para variar sem o Jake, quando de repente ele aparece, airosa num fato branco que fazia lembrar o das dançarinas de Charleston/Fox Trot/o que for. E começa a dar "conversa" (a cantar), à bancada do outro lado, coisa que já tinha começado desde o início quando a Ana reparou em nós. Já estava mais que mentalizada que não íamos ter atenção nenhuma quando nisto ele desce do palco e começa a vir para o nosso lado. A pensar que ele só vinha dar uns apertos de mão lá de baixo começamos a descer, mas qual quê. Ele passou o corrimão e juntou-se a nós. Por momentos temi pela minha vida, tive imenso medo que me atropelassem e deitassem das escadas abaixo, mas aí também me enganei. Ele subiu até cá acima onde eu, e os outros todos, estávamos. Estava estúpida. Despiu-se ao pé de nós, para delírio do Coliseu inteiro e ficou ali, no meu lugar. Às tantas vem um homem a correr desenfreado lá de baixo que me deita ao chão. A princípio pensei que fosse um fã assanhado a querer tirar fotografias, mas depois vi que era o segurança. Pediu-me desculpa, eu no auge da minha felicidade a cantar e a levantar-me ao mesmo tempo; ponho-me de pé, o Jake mesmo à minha frente, eu encolho os ombros e faço um sorriso género "Acontece", mas continuo a cantar e de repente ouço a minha voz super-esganiçada a um volume demasiado alto do que o aconselhado, a cantar "So she'll have no doubt that we're doing all the best we caaaaaan!!". Calei-me logo. E pronto, ele depois desceu e voltou ao lugar onde pertence, e eu fiquei em estado estúpido cheia de cãimbras no pé direito de tanto dançar e saltar e de ter sido deitada ao chão. Escusado será dizer que a partir desse momento controlar-me foi impossível, estive mais animada do que durante o set inteiro. E adorei quando foi a I Don't Feel Like Dancing. Tudo a cantar, milhões de braços no ar, palmas, luzinhas, penas, tudo. Foi memorável, mesmo.

Quando acabou tive logo que ligar a alguém a contar a proeza. Estava demasiado animada e espero do fundo do coração não ter furado tímpanos, mas ainda estava com o tom de voz à Bee Gees com que estive durante hora e meia.

Claro que não foi daqueles concertos que teve um significado especial. Os que me marcam são, geralmente, pela negativa. Aqueles que fico a pensar e a remoer e que me sinto miserável quando acabam. Placebo no ano passado, embora não tenha sido um concerto assim fantástico, foi o suficiente. Blur por tê-los à minha frente pela primeira vez depois de anos de espera. Arcade Fire em Paredes, que, embora não conhecesse nada deles, significou qualquer coisa não só pelas circusntâncias mas por causa do ambiente, também, aquela luz meio violeta. Este fica de certo pela energia e pelo movimento e pelo furor que foi, e também pelo Jake Shears e pelo carisma fantástico da Ana Matronic. Gostava de vê-los outra vez dia 5 de Julho no SBSR, mas não sei se vou estar abonada (ando com a mania de dizer isto) o suficiente para isso. Arcade Fire não perco por nada; a questão é, bilhete de um dia, é uma coisa. Bilhete para os três, que não há para dois, é outra completamente diferente.

E também há o Creamfields. Mas... esse também ainda não sei. Não quero ver Placebo sozinha outra vez.

AH! Tocaram a Paul McCartney! Foi o delírio.

3 comments:

Hobbes IV said...

Told yah, mt cansada e tal, não ias, não ias e olha, foi o melhor que fizeste :D Até apareceste no site da Blitz ^_^ hahaha, eu bi! e ouvi :p Keep on going!

lyra belacqua said...

Claro. Para a próxima digo-lhe que sou um homem a fazer tratamento hormonal para ser mulher e passo uma noite mesmo fixe. :P

Lily Strange said...

oh melher, a gente vai ao placebo.


bela noite que tiveste, sim senhora


bjs