Wednesday, July 25, 2007

O sétimo livro e a overviewzinha

Era eu uma jovem imberbe, no último ano de mil-nobe quando, certa noite, às voltas sem conseguir dormir, resolvi ir à estante e ir buscar um livro que me tinham dado há um tempo, qualquer coisa sobre uma Pedra Filosofal, com uma capa muito má com umas cartas a voar e uns pés numa vassoura, que não tinha puxado nada por mim. Pensava que era mais um daqueles livros de explicar coisas às criancinhas. Mas tirei-o da prateleira na mesma, e resolvi dar-lhe outra oportunidade. E foi uma oportunidade que durou até ao dia seguinte e durante os oito anos que se seguiram, até Sexta-feira passada. Lembro-me de, na altura, tentar converter umas quantas colegas minhas àquela seita que ainda ninguém conhecia, mas oh teenager incompreendida que eu era, ninguém ligou. Tornou-se então numa coisa minha, até por volta do terceiro livro, quando se começou a tornar uma coisa do mundo inteiro, levados a extremos que até eu acho absurdos. Os primeiros anos foram de obsessão total, de ler e reler vezes sem conta para me sentir próxima de um mundo aparentemente tão perfeito e tão perto do nosso. Chegava mesmo a imaginar como é que seria se aquilo realmente existisse. Andava completamente imersa naquele mundo. Depois veio o http://trapdoor2.proboards2.com, que ajudou ainda mais à obsessão e fez com que, durante anos, trocasse apontamentos de Funções e Estatística por correio com o Joel da Austrália. À medida que o tempo passava, o que começou por ser um culto pequenino cresceu à escala mundial, criando uma febre geral e uma mania da qual achei melhor me afastar para não ser associada àquelas pessoas dementes que fazem cicatrizes na testa com eyeliner e vão às estreias com corujas de peluche. Penso que foi com o Goblet of Fire que me apercebi do sucesso mundial que aquilo era. Na altura já nos mid-teens, com aquela pose anti-social de não gostar de nada que toda a gente gostasse, tentei nem sequer ler o livro e começar a criticar aqui e ali. Mas não. Quando acabei tive que dormir de luz acesa tal foi a imagem visual que fiz daquele ritual do final. Sexta-feira passada foi o ponto final de todos aqueles anos de auge de obsessão, do ter acompanhado uma fase não tão feliz, do consequente quase-crescimento e deixar de olhar para aquele mundo com olhos tão ansiosos, mas ainda suficientemente curiosos. Já não há mais, e penso que acabou exactamente como tinha que acabar. Fora o final demasiado feliz.

E agora os [neon]spoilers[/neon].

Tentei ler mais devagarinho que os outros para ver se durava mais, mas em vão. Enquanto que nos livros anteriores o clima de tensão só se torna evidente nos últimos capítulos, neste está presente do início ao fim, com muito poucas situações de calma. Há sempre a sensação que vai acontecer alguma coisa a qualquer momento, o que consegue fazer com que o ritmo de leitura aumente, quase até ao ponto de ler na diagonal para ser mais rápido. Isto por tópicos torna-se mais fácil:

- não gostei do capítulo Kings Cross: achei que estava muito rebuscado, confuso, e fantasy world de mais. Mais. Se toda aquela situação era suposto ser uma alucinação, e se uma alucinação é uma coisa formada por nós próprios, como é que a ideia de lá estar o Dumbledore, a responder a questões que só ele conhecia as respostas, consegue ser minimamente credível? Fora não ter percebido nada da história do morre-não-morre-e-se-não-morre-porquê. Foi muito, mesmo muito, rebuscado. Tive pena que ela se deixasse levar pelo lugar-comum de ser sempre o Dumbledore a explicar tudo no fim, e ter de recorrer a um cenário tão pouco credível como aquele para isso ser possível. Podia ter sido de outra maneira. Mas não foi e pronto, get on with it.

- também não me senti particularmente feliz com o Epílogo. Era demasiado feliz, e correspondia pouco com aquela imagem dos personagens que tinhamos vindo a criar ao longo dos anos. Mas, de certa forma, é lógico. Foi escrito muito cedo, na altura do primeiro livro, portanto não é de admirar que seja tão simples. E curto. E sei que toda a coisa Harry e Ginny é muito bonita e que calha bem, mas foi tudo demasiado rápido para durar mais dezanove anos e ter direito a rebentos. Enquanto que com a Cho, embora seja uma coisa diferente, existem dois livros com descrições do que se sente e do que não se sente, com a Ginny só começa no sexto livro, e é tudo muito rápido. Era preciso ter durado mais tempo, ser uma coisa mais sólida e conhecerem-se realmente bem para conseguir vender a ideia de que tinha sido happily ever after. Quanto ao Ron e à Hermione, não há surpresas, e finalmente e ainda bem.

- o Snape tornou-se no melhor personagem da série inteira. De personagem ao qual eu era absolutamente indiferente tornou-se num dos melhores, quase, mas quase ao nível do Sirius. Todo o sacrifício que fez, a dedicação e amor pela Lily, que o fez arriscar a própria vida ao suplicar para o aceitarem no lado bom só para a proteger, a raiva e frustração quando vê que os esforços foram em vão mas continuar no lado certo para proteger o filho dela, a única coisa que resta dela. Foi uma surpresa enorme e fiquei a adorar a pessoa. Há que dar mérito. Acho que até foi a parte que mais gostei do livro inteiro.

- Ron e Hermione. Até que enfim. Já começava a achar que ela ia criar um anti-clímax qualquer, género no final de tudo ela resolver ficar com outra pessoa qualquer que não tinha nada a ver. Depois de me matarem o Sirius já esperava tudo. Mas não. Os momentos durante o livro inteiro foram incrivelmente ... pronto, vou usar uma palavra que odeio, queridos.

- também gostei do Ron, a certa altura, abandonar a missão. Ponham três pessoas sozinhas numa tenda, a fugir de praticamente tudo, com uma missão em mãos que parece não ter solução. É absolutamente lógico e humano que uma delas quebre. Deu um toquezinho mais real à coisa.

E fico-me por aqui. Foi o fim da coisa mais nerd e, nos últimos anos, guilty-pleasure que gostei, e não podia ter acabado de outra forma. Embora ela ainda tenha deixado uma coisa por explicar. O véu do quinto livro.

Só espero que os próximos filmes sejam melhores que este mais recente para fazer juz ao final. O próximo já está condenado que também é do David Yates. Mas vamos ver.

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